31 maio 2007

As regras da economia

As regras da economia, da política e das relações entre elas têm vindo a evoluir nas últimas décadas de forma perigosa. Os cidadãos e povos têm progressivamente vindo a ser colocados ao serviço das classes que usufruem das vantagens desta economia e dos seus membros que se encantam com os poderes e luxos que os seus estatutos conferem. De um lado a precariedade dos que fazem o papel de figurantes mal pagos num filme que é sempre dos outros. Do outro lado o conjunto de proprietários, quadros superiores, gestores e políticos que ditam as regras de funcionamento e os salários, detendo ainda os órgãos de condicionamento informativo. Têm como aliados conscientes diversos exércitos bem pagos de “jornalistas”, comentadores e políticos. Como aliados ingénuos um enorme número de cidadãos que passarão toda a sua vida a aspirar serem ricos, poderosos, conhecidos, etc., morrendo sem dar-se conta de que tal era muito improvável. Afirmam que a culpa foi de outros, como sejam os desmancha-prazeres e malcriadões que prefeririam simpatia fundamentada na equidade em vez de elitismo e arrogância com base na prepotência.

Os países e seus cidadãos não podem ser encarados como as quintas de pecuária e a exploração dos seus animais. Os cidadãos não podem ser apenas mão-de-obra/consumidores para fabricar e comprar, enriquecendo terceiros..

As teorias em vigor são descendentes em zig-zag da aliança entre o nazismo e o grande capital. Uniram-se aos outrora liberais e criaram uma nova direita que se convenceu ser “centro-direita” ou “centro-esquerda”. Adivinhando problemas em breve, vão relembrando os perigos dos extremismos sem se darem conta que são eles próprios causa e factores de extremismos político-económicos que nos transportarão a locais históricos muito feios. Estes locais históricos são povoados de aumento do autoritarismo do estado à medida que aumentam protestos culturalmente desorganizados. É o tipo de protestos que decorre de se terem vedado aos povos a compreensão dos fenómenos económicos, políticos e sociais. Tal seria demasiado “marxista”, colocando portanto em perigo a marcha triunfal do mundo regido por estas brilhantes economia e política actuais.

A própria lógica concorrencial do capitalismo actual insuficientemente tutelado cria concentração financeira, concentração económica, concentração tecnológica ao mesmo tempo que cria deserdados desses fenómenos. Os estados são mais influenciados pelos poderes económicos do que pela democracia. Deste modo, as pessoas votam nos políticos que vão executar as regras ditadas pela actual cultura económico-política do capital, tornando-se na prática representantes dos interesses económicos. Enquanto as fusões criam grandes poderes económicos e desemprego, sucede que as sociedades não têm força directa, nem indirecta por intermédio dos seus “representantes políticos”, para dialogar em posição de força com o capital. Como resultado da concorrência empresarial, esta lógica de aumento de concentração e poder económico não pode ser revertida. Estes ingredientes empurram-nos para zonas perigosas.

O aumento das desigualdades entre cidadãos e entre regiões, os perigos ambientais e o crescimento populacional aliam-se à indisponibilidade crescente de água e de energia facilmente transportável e de elevada densidade.

Outros fenómenos internacionais são também potencialmente perigosos, para mais no actual contexto económico-político e ambiental. A concorrência entre regiões do globo, a posse e tomada de posse de fontes energéticas, a diminuição e retirada de direitos a povos e regiões por motivos estratégicos (onde avulta o petróleo) são fontes latentes de conflitos, com nomes tais como “terrorismo”, “invasões”, “direitos humanos”, e outros. Ou seja, termos utilizados pelos que têm maior poder económico, militar e comunicacional, relacionados com a gestão de interesses estratégicos à custa dos direitos de povos e regiões.

Estes actuais desarranjos e perigos surgem no entanto numa época histórica em que se desenham a diminuição relativa do poder dos EUA a par com o aumento do poder relativo da China; uma relativa independentização da Europa e América Latina face às lógicas intervencionistas dos EUA; o potencial ressurgimento da Rússia. São situações de quase-equilíbrio (potencialmente instável) que deveriam ser aproveitadas para o desenvolvimento de doutrinas e práticas políticas e económicas mais saudáveis. Novas doutrinas e práticas que limitem os riscos das alianças entre poderes económicos, políticos e militares.

A regra do crescimento económico e tecnológico sem limitações deveria ser reconsiderada, dado não se conhecerem soluções para os problemas da pobreza (relativa e absoluta local) associada às elevadas taxas de desenvolvimento de parte das empresas e regiões. Parece aconselhável uma diminuição nos ritmos de crescimento da maior parte da economia, população, meios militares e consumos. Poucos ritmos de crescimento elevado seriam bem acolhidos, tais como os relacionados com investigação e produção ligadas ao bem-estar individual e social independentes das modas (bens de saúde, urbanismo, ambiente,...). Naturalmente seriam indispensáveis muitos protocolos tipo Quioto, o fortalecimento da independência e equilíbrio da ONU, o acesso de correntes de opinião aos órgãos de comunicação (não só as correntes ligadas ao negócio-“democracia”). Muita evolução, que requer muita seriedade, imaginação e cooperação, a substituir o gosto pelo poder e pelo bem-estar não distribuídos. Muita programação no entanto mantendo quase intactos os direitos culturais dos povos. Alterações conduzindo à satisfação dos direitos e igualdade dos cidadãos e dos povos, com limitação dos direitos que o poder económico conseguiu impor em desfavor da democracia.

Os perigos eventuais podem ser tão grandes que pode ser necessária uma grande revolução para evitar uma grande catástrofe prolongada.

04 maio 2007

Informação social – um caso para estudo

Em 14 de Outubro 1975 o exército sul-africano invadiu Angola. Estava o exército sul-africano a cerca de 200 km de Luanda quando o exército cubano desembarcou nesta cidade e iniciou a recuperação das zonas invadidas. A 27 de Março de 1976 os últimos blindados do exército de invasão abandonam o sul de Angola.

Todos estes factos foram noticiados nos jornais e televisão portugueses na altura.

Entretanto, as notícias desapareceram rapidamente e, mais tarde, sempre que estes factos históricos eram referidos, as notícias referiam a entrada das tropas sul-africanas como resposta à presença militar cubana em Angola.

Aparentemente todos se convenceram entretanto que os factos se tinham sucedido pela ordem pela qual eram então noticiados.

Recentemente, os jornalistas dos órgãos de informação noticiaram, com manifestações de espanto, que afinal as tropas cubanas só entraram em Angola como resposta à invasão sul-africana. Esta nova notícia e espanto ocorre após desclassificação de ficheiros da CIA referindo a ordem na qual os acontecimentos históricos decorreram.

Várias questões se podem colocar em presença destes factos.

  1. Quem iniciou e quem tomou a iniciativa de espalhar a nível mundial a versão falsa?
  2. Como se processou este bem sucedido revisionismo histórico e como aderiram nacional e internacionalmente os órgãos de comunicação nacionais e internacionais à versão falsificada?
  3. De que forma aceitaram os jornalistas e o jornalismo esta mudança da verdade informativa durante 30 anos?
  4. Haverá muitos jornalistas ou haverá mais “jornalistas” que são meros funcionários e se limitam a “noticiar” os “factos” que interessam a certos interesses que não são identificados?

Há muitos mais casos de “informação”/desinformação que deveriam ser referidos e merecem ser esclarecidos.

02 abril 2007

OTA

Consideremos:

  1. A necessidade dos empresários da construção civil de terem grandes projectos para poderem viver condignamente.
  2. A necessidade do partido do governo de verbas para campanha eleitoral nas duas seguintes eleições legislativas.
  3. A necessidade do governo de apresentar bons resultados do emprego antes de eleições.

São considerações suficientemente fortes para cimentar a união de interesses entre empresariado da construção civil e decisores políticos.

São factos suficientemente pesados para passar por cima de tudo, incluindo eventuais alternativas mais baratas, com menores problemas técnicos e de mais rápida execução.

Temos de concordar que o interesse nacional pode revelar-se não ser suficientemente importante, quando comparado com interesses particulares e de clientela política. Daqui só pode resultar aeroporto na Ota.

Quando a ANA e a TAP forem privatizadas haverá champanhe por bons negócios para algum empresariado. Quando, mais tarde, a ANA e a TAP forem vendidas ao capital estrangeiro, voltará a haver champanhe por bons negócios. Quando numa época de crise, como acontece por vezes, essas empresas encerrarem (vejam Sorefame, Lisnave, etc.), não tem importância porque os órgãos de comunicação haverão de ocultar as responsabilidades pelo empobrecimento do país. Precisamos de ter em atenção que o capital detido pelo nosso empresariado é diminuto quando comparado com o capital internacional e que, nessas circunstâncias, as fugas para o estrangeiro e encerramentos são cenários mais que hipotéticos.

Quando daqui a 30 anos, segundo os estudos realizados, o aeroporto na Ota estiver irremediavelmente superlotado e sem possibilidade de expansão, ninguém já se lembrará de Sócrates.

Nessa altura, filhos ou netos de Sócrates negociarão novo aeroporto, talvez no Poceirão, com lucro seguro para ambos, num país sob administração espanhola, da CE ou da ONU. Só este parágrafo é irónico, sendo no entanto tão sério como os outros.

01 abril 2007

A raiz do problema

Trata-se aqui de mostrar aquilo que é a raiz.
Esta... encontra-se na estrada Maputo-Matola, em Moçambique. Retrata a pobreza que se vive nas zonas limítrofes. Essas regiões que se encontram nas franjas do que se pode considerar a zona civilizada. Fora dela nada importa. Nada realmente conta. A não ser que isso interfira com a nossa vida. Que haja um atraso, que alguém morra, algo aconteça que sirva de notícia para entreter o centro, a zona onde se movem os que realmente contam.
Ora é exactamente isto que o nosso governo tem feito, quando nos falam em governar para o centro, não estão a falar de uma ideologia política, falam de governar para aqueles que realmente estão nos centros de decisões.
Exemplo - que importa que Varzea de Jales não tenha um SAP, nem que sequer Vila Pouca de Aguiar o tenha, existe um em Vila Real, a 20 minutos, de carro.
O quê? não tem carro? vai de ambulância...demora mais de uma hora... vai de taxi, não há taxis? Mas então que é que esta gente quer, só incomoda...

27 março 2007

Salazar


Quando a CIA aposta em Mário Soares em vez de Sá Carneiro, não era porque aquele estivesse ideologicamente mais próximo do que este. Mário Soares tinha maior apetência pessoal pelo poder, era talvez mais oportunista e tinha o apoio da Internacional Socialista (aquela de que nunca mais se ouviu falar após o triunfo do bloco politico-militar capitalista -- curioso).

Com tanta apetência pelo poder foi fácil fazer acordos com a CIA, a igreja, os empresários fugidos, os latifundiários, os militares antigos e os políticos do fascismo publicamente menos comprometidos.

Com a estabilização militar obtida com o 25 de Novembro, 18 meses após o 25 de Abril, procedeu-se à estabilização política e social. Jogou um papel importante o fim dos debates políticos existentes no período do PREC. Seguiu-se (até precisamente 25 anos depois de 1974) um período de grande alteração nos órgãos de informação, caracterizada pelos concursos, telenovelas, futebol (tentaram também ténis, automobilismo e passagens de modelos), comentadores “democráticos” (a direita do CDS ao PS) debates políticos “democráticos” (a direita do CDS ao PS), além das telenovelas informativas a substituir a informação esclarecedora. Enquanto não deixavam de lembrar os crimes da esquerda, esqueciam de culpabilizar os criminosos do fascismo. Os pides chegaram na televisão a ser tratados como “Senhor Inspector”. Como síntese da ideologia por trás dos grandes órgãos de comunicação isto diz tudo.

Enquanto a política económica foi beneficiando os mais ricos, em nome da democracia e da eficiência, o país foi-se afundando em corrupção, extinção de sectores produtivos, apesar dos (à volta de 2) milhões de contos entrados diariamente no país.

Naturalmente o que menos interessava a este conglomerado de interesses era ouvir nos grandes órgãos de informação as opiniões dos “não democratas” – aqueles que não alinhavam no empobrecimento do país para enriquecimento dos que lucravam com esta (para alguns) sua liberdade económica.

As instituições internacionais nada diziam a este empobrecimento dos mais pobres para enriquecimento dos mais ricos (países e cidadãos). CEE e I.S. sempre calados em relação a estas características da nova ordem económico-político-militar internacional.

Dada a complacência e até simpatia com que Salazar, salazaristas e “novos democratas” foram tratados nos grandes órgãos de informação, face à forma agressiva como foram hostilizados, impedidos de participar e acusados os que não alinharam nesta alegre união nacional, não é de admirar que o país seja hoje razoavelmente salazarista. Não é de estranhar que a direita CDS-PSD-PS tenha dificuldades em justificar como é que as suas preocupações “cristãs” ou “socialistas” conduziram a tal estado cultural e a tal estado económico. Estou certo que nenhum telejornal lhes apontará o dedo.

Estudos de impacto da corrupção

Os grandes projectos nacionais, e aqueles que podem representar alguma perigosidade para o ambiente são obrigados a apresentar um estudo de impacto ambiental.
Venho aqui propor que projectos que impliquem a possibilidade de haver corrupção sejam tratados da mesma forma e que se efectuem estudos de impacto de corrupção.
Estes estudos poderiam prevenir, antever e acompanhar a execução de projectos que fossem especialmente vulneráveis a este tipo de impacto.
Lembro aqui os caos da OTA do TGV e aqueles em que se calhara se poderiam ter prevenido derrapagens e outros tipos de acidentes.

Cheguem-se para lá

O Estorvo não acha que a cultura elaborada por quem possui os grandes meios de informação seja do interesse da democracia. Infelizmente a informação é hoje essencialmente construída por associados e funcionários dos grandes poderes económicos. Estes têm poder suficiente para determinar as políticas dos políticos que nós elegemos. Têm ainda poder para criar as realidades e ficções informativas que dão forma aos nossos pensamentos.

O estorvo pode não ser grande mas é necessário.

Caberiam no estorvo todos os contributos que estorvem o controlo informativo e cultural que o status mundial exerce sobre a cultura dos países. Por preguiça, incapacidade, inveja, desatenção, o estorvo reserva-se o direito de não publicar todas as propostas, ainda que as mais meritórias, informadas, honestas e verdadeiras. Por preguiça tenderá a publicar muito poucas mensagens.